Eu sou um leitor
voraz! Meus amigos e conhecidos ao lerem tal afirmação dirão: “Isso não é
nenhuma novidade. Sabemos que você é um leitor voraz – convivemos com você,
chato! Esqueceu?” Contudo, trago essa “Boa Nova” para o leitor que ainda não me
conhece e que vai ter que me aturar, lendo minhas crônicas, muitas vezes chatas
e que não trarão nenhum interesse para a grande maioria. Contudo, não existem
assuntos interessantes, existem assuntos que nos interessam e se o leitor ficar
interessado por meus assuntos, ficarei feliz e radiante e, talvez diga: “Toca
aqui, meu chapa!”
Gosto de um escritor
tcheco, mas que escreve no bom, velho e carrancudo alemão, chamado Franz Kafka –
um gigante da literatura universal. Considero-o maior dissecador da contemporaneidade
e o maior psicólogo da humanidade “pós-moderna”. Uma coletânea de contos, parábolas,
aforismos, fábulas, culminando com sua famosa novela – “A metamorfose” – foi
reunida num livro por Modesto Carone, intitulado “Kafka Essencial”. Livro muito
bom, da editora “Pearson”. Dentre estes escritos do franzino, mas gigante,
escritor, está uma fábula incomum, intitulada “Pequena Fábula”, que agora
transcrevo:
“Ah”, disse o rato, “o mundo torna-se a cada dia mais
estreito. A principio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e
me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à
esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para
a outra, que já estou no ultimo quarto e lá no canto fica a ratoeira para qual
eu corro.” – “Você só precisa mudar de direção”, disse o gato e devoro-o.
Esta “Pequena Fábula”
é uma das parábolas sobre o homem e a mulher contemporâneos mais interessantes
que já li. Lembro que quando a li, no meio da rua, próximo a “praça da matriz”,
como é conhecida a praça da igreja de Santa Tereza, em Tefé, minha reação foi: “UAU!”
Sim, assim mesmo, no maiúsculo. Fiquei estupefato, sem palavras, com um nó na cabeça,
olhando para um lado e outro, vendo se Kafka não estaria me vendo. Senti a esquizofrênica
sensação de me sentir observado por ele. Sem redundância!
Comecei a pensar na “humanidade”
contemporânea como a aquele rato. Solitária, fria e presa num quarto, a “pós-modernidade”.
Com a sensação de que é livre, de que pode correr pra onde quiser, porque tudo
é grande, tudo é bom, tudo pode. Pensando: “Posso beber o quanto quiser! Posso
transar o quanto quiser e com quem quiser, sem me preocupar com o outro! Posso
ferir o coração de quantos quiser, sem me arrepender! O amor? O amor é brega. O
importante é ter dinheiro, uma boa casa, ser solteiro (a), ter um carro
elegante, consumir muita droga. O quarto é grande!” Mas tal como o rato, na
verdade, a humanidade é medrosa e se lança “pra frente” em fuga. A liberdade
libertina é, na verdade, uma ilusão, uma fuga, porque o homem “pós-moderno” é
um homem amedrontado.
Der repente o homem
se vê preso. Percebe sua falsa liberdade. Percebe-se como um fugitivo a fugir
de si mesmo, se lançando em qualquer caminho, em qualquer coisa, que não seja a
si mesmo. Então, as paredes convergem, aparecendo ao fundo uma ratoeira cada
vez mais próxima, a angústia, porque ele está sempre seguindo “em frente”,
fugindo de si. O rato/homem não está pronto pra
enfrentar seus demônios, encarar a ratoeira a sua frente. O medo o
apavora ainda mais; a solidão o angustia... e como num passe ilusório de mágica
aparece um novo refúgio, o gato, que lhe grita: “Você só precisa mudar de
direção”, e o devora!!!
Fim trágico! Fim do começo
de uma reflexão: Quais nossos medos? Somos livres? Sabemos encarar nossa
solidão, nossas angustias, nossos medos? Quais são nossas fugas? Quais nossos
caminhos? Quem ou que é nosso gato?....
Como filosofo chato
que sou, quero, com minhas perguntas, suscitar mais perguntas no leitor e leva-lo
a refletir!
h
Gosto de ler seus escritos mas prefiro ouvir você os lendo pra mim! rs Felipe, o chato.
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