Já fazia um tempo que os pais de Anderson vinham notando mudanças no comportamento do filho. Mas, na última semana a situação se intensificou. Roberto e Daiana sabiam que aquilo não deveria ser um problema de um garoto de 15 anos. Tentaram abordar a situação da forma mais natural possível. Foi Daiana quem tentou primeiro.
- Filho, como estão as coisas? – Indagou. O garoto estivera no celular o dia todo.
- Tudo bem, mãe. – Respondeu sem fazer caso e voltou a prestar atenção no celular.
Mais tarde foi Roberto quem tentou lidar com a situação.
- Anderson, tem alguma coisa errada? – Perguntou com ar grave.
- Está tudo bem, pai. O que deu em você e na mamãe? – Respondeu já irritando-se e travando a tela do celular ao menor olhar que Roberto jogou à tela.
À noite, o casal não teve outro assunto antes de dormir. O que estaria acontecendo com o jovem Anderson?
- Ele tem tido um comportamento muito esquisito, Roberto! E o pior: ele não desgruda daquele celular. Tenho medo. Com quem ele tanto conversa? Ou o que tanto ele vê? – Com seu pijama lilás, Daiana mirava o esposo preocupada, procurando resposta.
- Garotos dessa idade, Dai. Às vezes acabam seguindo certos caminhos tortuosos. – Disse de olhos baixos, tentava não aumentar a preocupação da mulher.
- Você teve esse tipo de problema? – Ela levantou as sobrancelhas ao inquirir-lhe.
- Não, não. Mas muitos amigos meus tiveram. Não é algo raro entre os jovens de hoje. Lembre-se do que já havíamos conversado: praticamente todo jovem comete algum grande erro na adolescência. Talvez este seja o erro do nosso filho...
- Não! – Soluçou a mulher e foi acolhida pelo marido. Quando conseguiu continuar foi com a voz entrecortada. – Eu não posso acreditar que o meu menino... Roberto, você ensinou tudo o quanto era coisa de homem a ele... Como... Como ele pode ser isso?
- Vamos ter que intervir, mulher. Ou esse menino vai nos trazer incontáveis desgostos. Se o meu pai descobre isso...
Parou no meio da frase quando teve uma ideia. Lembrou-se de sua própria rede social há muito esquecida e, ligando o computador, pesquisou o perfil de Anderson. Ali estavam todas as provas necessárias para confirmar a suspeita: fotos, textos e comentários em publicações de amigos.
- Que vergonha, Roberto! E ele expõe assim... Qualquer um no mundo poderia ver. Quem da nossa família pode ter visto isso?
- O seu irmão Patrício, Daiana. – Disse Roberto enquanto lia um comentário do tio de Anderson em sua publicação.
- E ele não nos comunicou nada? O que ele está pensando? – Mas, ao ler o comentário de Patrício, Daiana suspirou novamente em desgosto. – Ele apoia o nosso filho nesse absurdo, Roberto! É claro que ele não nos diria nada.
Após alguns minutos de reflexão, Roberto desligou o computador e pegou o telefone. Apesar de ser mais de dez da noite discou o número de uma psicóloga conhecida e marcou uma hora para o dia seguinte, logo de manhã.
- E o seu trabalho? E a escola do Anderson? – Prática, a mulher viu logo problema em faltar com as responsabilidades.
- Daiana, pelo amor de Deus. Se ele realmente for essa aberração, nós precisamos cuidar disso o mais rápido possível.
- Não se refira ao nosso filho nesses termos! – Exaltou-se a mulher. – Eu tinha uma cliente amanhã, mas remarcarei. Estarei com vocês.
- Como preferir. Agora, precisamos dormir.
A noite correu inquieta para Daiana e Roberto, de tão preocupados que estavam em relação ao filho. Claro, já tinham ouvido falar de psicólogos que poderiam ajudar nisso. E era exatamente isso que buscariam. Percorreriam todos os psiquiatras do Brasil se necessário, mas a cura viria para o filho. E quanto a Patrício, Daiana estava decidida a ter uma conversa muito séria com o irmão assim que possível: como ele poderia apoiar Anderson em tal depravação?
Pela manhã, Anderson reuniu-se aos pais para o café-da-manhã com o celular na mão. Roberto e Daiana se entreolharam e foi o pai quem tomou a iniciativa primeiro.
- Filho, você vai faltar a escola hoje. Marcamos uma consulta com a psicóloga.
Anderson pareceu não entender.
- Mas, tem algo errado?
- Filho... – Começou Daiana, e buscou apoio no olhar no marido. – Sabemos o que você é. Ou melhor, o que pensa ser!
- Mas nós estamos aqui para ajudar você, filho – continuou o pai. – Você não nasceu assim e não vamos te perder para algo tão baixo.
- Nós vimos o que você tem postado nas redes sociais, filho. – Anunciou Daiana.
O menino ficou branco como uma folha de papel. Não esperava por aquilo. Conhecia os pais. Era a última coisa que desejava que descobrissem. Achou que estava a salvo compartilhando seus íntimos pensamentos com os amigos, mas agora sentia-se despido.
- Eu... – Gaguejou o garoto. – Não queria que soubessem disso. Mas, é verdade. Tudo aquilo é verdade... Eu...
- Não diga mais nada, Anderson! – Interrompeu o pai. – Não criei filho para isso! Nós vamos dar o jeito nisso e você vai ser um garoto normal.
Não ousando dizer mais nada, Anderson acompanhou os pais até a psicóloga. Lá chegando, foram prontamente atendidos.
- Meu nome é Minerva. Há algo que eu possa fazer por vocês? – Foi uma das primeiras coisas que a psicóloga indagou ao ver os olhos preocupados dos pais e a expressão assustada do filho.
- Sim. É com o nosso filho. – Começou Roberto, procurando apoio no olhar de Daiana. – Nosso filho é homofóbico, Minerva.
Este texto faz parte da série CONECTAR E VIVER, de K. S. Dávila. Mais será publicado em breve neste blog.










