quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Uma história de Natal


         Olá, Universos! Hoje tenho uma história de Natal para vocês. O que pode dar errado em uma noite de Natal? Tudo e nada! 

De Kétlen

Para Escritores Incríveis

        
[24/12 16:44 PM] Paulo: Isso é sério?
[24/12 16:44 PM] Jéssica: Isso seríssimo, Paulo. Como eu vou passar o Natal sozinha?
[24/12 16:53 PM] Paulo: É muito ruim? Olha, pode vir pra cá





Meu voo deveria ter partido às 16:30. Eu chegaria na casa dos meus pais às 18:55. Tempo suficiente para chegar a tempo da ceia, mas a viagem havia sido cancelada. Antes que eu pudesse entender o motivo, me vi chorando que nem louca no saguão do aeroporto com o telefone na mão enquanto explicava para a minha mãe que só poderia sair da cidade dali a quinze horas. Ou seja, eu poderia dizer adeus ao pudim de doce de leite da minha avó que eu amava desde criança e para as piadas sem graça de fim de ano. Nunca havia sentido tanta necessidade daquelas piadas, mas você fica sensível depois de dois anos morando longe dos pais por causa do trabalho.


Uma Jéssica cabisbaixa dispensava a hotelaria do aeroporto e saía para procurar um táxi. Pedi para o Paulo me buscar, mas aparentemente estava muito ocupado com os preparativos para a noite de Natal na casa da avó dele, porque ele estava demorando demais para responder as mensagens. Diante da necessidade de ir até ele sozinha, caso não quisesse passar a noite na solidão da minha kitnet, achei um completo absurdo que eu não tivesse a mínima ideia de onde a avó do meu namorado morava.


[24/12 17:05 PM] Jéssica: Tudo bem. Me manda o endereço.
[24/12 17:20 PM] Paulo: Rua Alfaia, 28, Panamá.


         Eu perguntei mais detalhes sobre como chegar, mas ele simplesmente desligou a internet e as minhas mensagens ficaram por ser recebidas.
Com a mínima vontade que eu tinha de permanecer nas dependências daquele lugar que dissipara minhas expectativas, tomei um táxi. Um senhor um tanto mal humorado, careca e rechonchudo me ajudou a colocar a bagagem (uma única mala roxa) no porta-malas.  Sentei no banco de trás sabendo que logo teria outra crise de choro. No rádio tocava uma música horrorosa da moda e, ao se acomodar pesadamente no banco do motorista, o taxista perguntou-me o destino.
- Ah... Só um minuto. - consultei o celular – O endereço é esse. – mostrei-lhe o celular e ele respondeu com uma confirmação com a cabeça.
Os primeiros minutos de viagem foram torturantes por causa da música ruim, mas o motorista notou o meu incômodo e trocou de estação, o que não ajudou muito porque estava tocando uma música tão ruim quanto a primeira.
Lágrimas escorriam de forma que eu não exercia o mínimo controle sobre isso. Não prestei atenção no caminho, apenas olhava para o celular e para a mensagem que não chegava para o Paulo. Que tipo de namorado desliga a internet logo depois de pedir para a namorada encontrá-lo em um lugar em que ela nunca esteve antes?
Quando o táxi parou, tive a leve impressão de que o taxista estava me assaltando sorridentemente quando me disse o preço da corrida. Paguei-o e quando coloquei meu pé para fora do táxi, me ocorreu que eu deveria ter pedido um desconto porque aquela música horrível agora estava grudada na minha cabeça.
Com a mala ao lado, endireitei a blusa sob a jaqueta e tentei esboçar meu rosto mais simpático. Caminhei decididamente à uma casa que parecia excessivamente triste em relação ao estado de ocupação do Paulo. Não haviam luzes, mas apenas uma televisão ligada que via-se através das cortinas da janela frontal. Com três batidas, notei que alguém se erguera do sofá diante a tv e agora caminhava para a porta. Dei mais uma olhada para a numeração da casa: 28.


Perdizes, zona oeste paulistana

- Oi? – disse uma voz sonolenta e masculina. Aquele rapaz poderia estar esperando que o dilúvio se abatesse sobre ele naquele instante, mas com certeza, não poderia estar esperando pelo Natal. Deveria ter a minha idade e usava um calção e uma camiseta e parecia ter sido despertado de um belo sono e não estava muito feliz com isso. Tinha os cabelos castanhos bagunçados e seus olhos da mesma tonalidade não pareceram esboçar qualquer reação à minha presença que não fosse incômodo.
- Eu estou procurando o Paulo. Sou a namorada dele, Jéssica. – disse, em dúvida, porque algo parecia estar errado.
- Conheço pessoas que atendem por esse nome. – ele coçou o queixo com a barba por fazer - Mas nenhuma mora aqui.
- Ah, ele não mora. É a casa da avó dele. – como se insistir fizesse o Paulo aparecer na soleira da casa com uma travessa cheia de cupcakes.
- Que eu sabia a avó dele não mora aqui. Nem a minha avó mora aqui. – ele respondeu simplesmente.
Meu estômago deu uma pirueta. O taxista deveria ter se enganado. O desespero imediato deu lugar à sensatez quando me ocorreu a ideia de que o engano deveria ser de rua. Nenhum taxista competente erraria um bairro em uma cidade que nem era grande de verdade.
- Desculpe. Acho que o taxista errou a rua. Estou procurando a rua Alfaia.
- Você está nela. – agora ele havia se recostado à parede e me olhava com certa dose de divertimento. Seus olhos indo da minha mala para o meu rosto, que eu sentia ficar cada vez mais vermelho.
- Tem quantas ruas com esse nome por aqui?
- Só essa.
- Ai, não. Mas o endereço está aqui. – puxei o celular da bolsa e mostrei-lhe a conversa com o endereço que eu procurava.
- Hum... – ele coçou a barba. – Você está no endereço certo na verdade. Com o detalhe de que este é o conjunto Panamá. E não bairro Panamá.
Todas as minhas forças se esvaíram. As próximas palavras que saíram da minha boca foram xingamentos para o taxista e logo em seguida para o Paulo, que simplesmente não atendia o celular. Eram 7:25 PM.
- Se você não se importa... – disse o rapaz depois de um tempo me observando. – Eu tenho uma noite de Natal para aproveitar.
         - Eu também tenho uma noite de Natal pra aproveitar. – quase gritei com uma onda de ódio tomando conta do meu peito – Sabe, eu nem deveria estar nessa cidade. – disquei o número do Paulo no celular, mas ninguém atendeu. Na iminência de mais uma tentativa, a bateria acabou. – Eu peguei a droga de um táxi e dei um endereço para aquele idiota, mas ele não foi capaz de me deixar no lugar certo. – joguei o celular na bolsa. – E agora eu estou em um lugar que eu nunca vi antes diante de um estranho que tem uma noite de Natal pra aproveitar. – levantei a alça da mala e comecei a arrastá-la para a rua. – Muito bem. Feliz Natal.
         Saí pisando duro, mas não havia me distanciado cinco metros quando a voz do rapaz irrompeu não mais da porta, mas da calçada.
         - Isso aí dá em uma rua sem saída.
         Segurei o passo por uns instantes e então marchei na direção contrária, agora voltando na direção do rapaz. Quando passei reto por ele, ele disse:
         - Pra onde você acha que tá indo?
         - Procurar um táxi.
         - Não tem muitos táxis por aqui.
         - Para uma parada de ônibus.
         - Frota reduzida. E mesmo assim, sabe para qual parada ir e qual ônibus esperar?
         - Você está querendo me ajudar ou me deixar mais nervosa?
         - Acho que eu vou te deixar mais nervosa se disser que você não vai conseguir virar a esquina sem ser assaltada. Essa aqui não é uma área muito boa.
         Tudo parecia deserto e as poucas pessoas que encontravam-se por perto não pareciam ser amigáveis.
Então um senhor um tanto mal vestido veio na nossa direção. Senti uma pontada de medo e meu íntimo quis soar o alarme de perigo, mas ele abriu os braços na direção do rapaz que eu acabara de dar as costas, envolvendo-o em um caloroso abraço e desejando-lhe boas festas.
Depois de alguns segundos de conversa como se eu não existisse, nem estivesse parada olhando para eles, o senhor resolveu me notar.
- E ela? – ele olhou para as minha mala. – Estava morando com você?
         - Eu não a conheço. Bateu na minha porta por engano.
         - Meu nome é Jéssica. – senti que precisava falar qualquer coisa. – Um taxista me trouxe ao local errado. Preciso ir para o bairro Panamá.
         - Finalmente me explicou direito. – disse o rapaz que agora sorria como se tivéssemos sido apresentados cordialmente. – Meu nome é Guilherme. Lamento, mas você não vai conseguir sair daqui agora. Eu te ajudaria, sabe, não tenho nada melhor pra fazer. – olhou para as próprias roupas. – mas eu não tenho como te levar a lugar nenhum se não for com você caminhando com as próprias pernas.
         Eu estava a beira de um novo ataque de choro, mas o senhor, que se apresentou como Maurício olhou de Guilherme para mim e disse com ar decidido:
         - Bom. Na verdade você vai ajudá-la sim.
         - Mas, padrinho...
         - Pode pegar o meu carro. – antes que o Guilherme elaborasse qualquer desculpa, o senhor Maurício perguntou – O que você marcou de interessante pro Natal?
         Guilherme abriu a boca, mas depois fechou. Ficou em silêncio como se esperasse que um raio caísse sobre mim e eu não fosse mais da conta dele. Mas afinal, o que ele fez foi assentir e me convidar para sentar na varanda da casa dele enquanto buscava o carro do tio, em uma rua vizinha. Era uma velha Brasília azul escura. Se me levasse para a casa do Paulo, era o melhor carro que eu já havia visto na vida.
         Jamais havia recebido uma ajuda a qual eu sentisse tanta vontade de recusar. Quando entrei no carro, ele simplesmente murmurou algo como “Bairro Panamá aí vamos nós” e arrancou sem cerimônias enquanto eu ainda colocava o cinto de segurança no banco do carona.
         - Hum... Que horas são? – perguntei depois de uns quinze minutos em silêncio.
         - Garota, esse é um péssimo jeito de puxar assunto.
         - Eu não quis puxar assunto com você. Só quero saber que horas são. Meu celular está descarregado.
         Quando paramos no sinal, ele tirou o próprio celular do bolso.
         - São nove e meia.
         - Ai, meu Deus.
         - O Natal é tão importante assim pra você? – ele perguntou, sem tirar os olhos do trânsito, que estava tão calmo o quanto deveria estar para o horário e data.
         - Eu preciso encontrar o meu namorado. Ele deve estar preocupado. Eu deveria ter chegado há muito tempo.
         - Ele está preocupado? Você deduziu isso quando ele não atendeu a sua ligação quando a gente estava na frente da minha casa?


Avenida em Nova Iorque

         
         
        Senti um rubor espalhar-se pela minha face e logo em seguida uma onda de raiva me fez sair do carro antes que o sinal abrisse. Bati a porta do carro com força e saí para a noite fria praticamente correndo.
         - Jéssica!
         - Vai embora! Eu me viro. Muito obrigada.
         Mas o Guilherme me alcançou quando consegui parar um táxi e me segurou pelo braço.
         - Eu sabia que você era cilada quando apareceu com aquela mala na porta da minha casa. Mas, sabe de uma coisa? Eu não vou decepcionar o meu padrinho.
         - Não pode me obrigar a ir com você.
         - Será que o casal aí pode se resolver? Eu não tenho a noite toda. – disse o taxista enquanto observava a cena.
         - Ela vem comigo.


       

       

       O taxista não esperou uma confirmação minha. Simplesmente arrancou nos deixando sozinhos. Eu adoraria fazer um discurso sobre o patriarcado, mas teria que ficar pra outra ocasião. Discutimos enquanto caminhávamos de volta para o carro.
         - Se eu ouvir mais uma piada idiota, eu juro que coloco a minha cabeça pra fora da janela e começo a gritar que você está me sequestrando.
         - Eu juro que se você fizer isso eu te sequestro mesmo.
     Mas, quando chegamos ao local onde o havíamos deixado o carro, ele havia desaparecido. Guilherme chamou tantos palavrões que eu quase me senti culpada.
         - A gente precisa ir na delegacia. – tentei dizer.
         - E o que você acha que eles vão fazer? Reembolsar a gente?
         - Não, mas podem pegar quem fez isso.
         - Não. Eles não podem.
         - Então eu pago, ok?
         - Com a sua mala rosa que eles levaram junto?
         Na pressa para sair do carro, acabei esquecendo que a mala ficara lá dentro. Eu estava só com a minha bolsa.
         - Era roxa. – o olhar que ele lançou me fez perceber que a informação era desnecessária – Você quer fazer o favor de ligar pra alguém? – a angústia crescia no meu peito.
         - Liga você. Toma. – ele me empurrou o celular dele e imediatamente disquei o número do Paulo. Ninguém atendeu.
         - Acho que estão todos ocupados. – eu disse em voz baixa.
         - Ótimo. Olha, eu não sei você. Mas eu vou pegar um táxi e vou voltar pra minha casa e viver meu Natal como planejei desde o começo: dormindo. Com licença. Feliz Natal.
         E, virando as costas, seguiu o mesmo caminho pelo qual minutos antes eu mesma seguira correndo. Não tive alternativa se não sair correndo atrás dele.
         - Guilherme!
         Ele parou um táxi, entrou e eu fiz o mesmo.
         - Se você vai para a casa do seu namorado, esse táxi não está indo pra lá.
         - Eu não quero ir para a casa do meu namorado. – disse firmemente para o Guilherme e virando para o motorista pedi-lhe. – Nós vamos para o Aleluia.
         - Quê? Ah, não vamos não. – protestou o Guilherme.
         - Ok. – disse o taxista, que era o oposto do que eu tomara minutos antes.
         - Não. Essa garota tá me sequestrando.
         - Olha aqui. Eu perdi um voo que me levaria para passar o Natal com a minha família, me perdi em um lugar em que eu nunca havia colocado meus pés antes, percebi que meu namorado é um babaca, entrei em um carro com um estranho que fez uma droga de piada de mau gosto, fui impedida de ir embora decentemente com a minha raiva para descobrir que o carro foi furtado e o tal do Guilherme que não tem nada melhor pra fazer no Natal me vira as costas e diz que vai me deixar sozinha em um lugar que eu nem sei que nome tem. E agora são o que... – com a maior autoridade que consegui reunir, meti a mão no bolso dele e olhei o celular – dez e quinze. E eu só quero chegar no Aleluia a tempo, porque, sim, até uma comemoração pública me parece menos deprimente do que voltar para a minha kitnet e simplesmente dormir. E não vem me dizer que você tem coisa melhor pra fazer porque, droga, assim como eu você não tem. Então, nós vamos para o Aleluia. Ok?
         - Ok. – ele me fitava um tanto assustado pela torrente de palavras, mas com uma ponta de divertimento escondida em seus olhos.


Praça São Pedro

         A viagem foi silenciosa e suficiente para acalmar nossos ânimos. Às onze horas chegamos na praça cheia de luzes de Natal, com uma enorme árvore no centro com hinos de natalinos cantados alegremente por um coral de crianças e adolescentes. O lugar estava movimentado, de forma que segurei o braço do Guilherme para que não nos perdêssemos na multidão.
      - Então, o que tem pra fazer aqui? – ele perguntou depois de dez minutos de caminhada entre as pessoas e as barracas que vendiam comidas para arrecadar fundos para alguma associação.
         - Nada do que você faria deitado no sofá vendo tv. – respondi.
         Caminhamos mais um pouco e descobrimos que havia a tradição de escrever votos natalinos e pendurar na grande árvore montada no centro da praça. Enquanto escrevia os meus, notei que Guilherme se afastou, aparentemente aproximando-se para observar as renas mecânicas que pareciam alçar voo puxando um trenó.
         - Você não vai escrever as suas resoluções? – perguntei quando me reaproximei dele e notei que ele estava guardando o celular no bolso. Estava ao telefone com alguém – Desculpe. Não quis interromper.
         - Ah, não tudo bem. Quer comer alguma coisa?
        Escolhemos uma barraquinha de cachorro quente. Rimos enquanto o molho escorria pelos nossos queixos e pingava em nossas roupas. Parecia que havia transcorrido séculos desde que o meu voo fora cancelado. Depois que saísse do Aleluia, correria para a minha kitnet, arrumaria outra mala e pegaria o voo da manhã. O louco seria contar para os meus pais que eu havia contraído a dívida de um carro.
         - Olha, me desculpa. – começou Guilherme – Sabe, pela piada e tudo. Eu... Não acho de verdade que o seu namorado não liga pra você.
         - Tudo bem. Aposto que ele nem lembra que eu deveria estar na casa da avó dele. Desculpa pelo mau jeito também.
         - Ah, não precisa se desculpar. Acho que foi bem mais difícil para você.
– Por que você não gosta do Natal? – pensei um pouco e então resolvi perguntar. Para o meu alívio, ele não pareceu incomodado.
- Minha namorada terminou comigo no Natal passado. 4 anos de namoro. E ela termina no Natal. Você deve estar se perguntando: por que ela não escolheu o meu aniversário?
Rimos disso e então o canto Vinde, Cristãos, vinde à porfia se intensificou, o que significava que era meia-noite e que era Natal. A praça ficou mais iluminada do que já estava enquanto as pessoas abraçavam umas às outras e observavam o show de luzes.
         Guilherme me envolveu em seu abraço, sem dizer nada. Senti-me confortável. Há poucas horas resistimos ao desejo de matar um ao outro e agora nos abraçávamos como se tivéssemos cumprido uma nobre missão juntos.
         - Obrigado. – ele sussurrou no meu ouvido. Sem entender, afastei-me dele e olhei em seus olhos.
         - Pelo que, exatamente?
         - Por... Não deixar que eu tivesse uma noite de Natal ruim.
         - Ah... Bom. Obrigada também. Por ter me salvado. Eu estava perdida em um lugar perigoso.
         - Você não pode falar assim do lugar onde eu moro. – eu corei e fiquei séria, mas ele esboçou um largo sorriso que me fez perceber que não havia problema.  


Olho Mágico, 2015

         Quando nos envolvemos em um segundo abraço natalino, aconteceram coisas muito rapidamente. A primeira foi o vislumbre de Paulo vindo na nossa direção. A segunda foi Guilherme sendo puxado para longe de mim. Depois o Paulo estava gritando em cima de mim, dizendo que eu estava o traindo, enquanto o Erick, irmão do Paulo, segurava o Guilherme, que não resistia, mas apenas me olhava.
         - Solta ele agora, Erick! – gritei.
         - Você vai defender esse cara? – o Paulo me segurou pelo braço.
         - Quer que eu defenda você por ter me dado um endereço pela metade? Ou por ter desligado a internet? Ou por não me atender? Ou por ser um péssimo namorado?
         Paulo ficou mudo e fez um gesto para o Erick soltar o Guilherme, que veio direto para mim e disse para que só eu ouvisse:
         - Ele me ligou. – então eu compreendi: ele deve ter retornado a ligação para o número que liguei quando estava na estrada. Deveria ter deduzido que eu estava no Aleluia por causa da música. Não havia outra celebração do tipo na cidade – Desculpa não ter dito nada. Não queria estragar tudo.
     Meu estômago deu uma cambalhota, meu coração se partiu, meu rosto ficou escalarte e um nó atou-se à minha garganta.
Definitivamente, o Guilherme era o herói da noite. Foi então que me dei conta de que a música havia parado e que todos nos observavam. Assim que pensei que havia sido um milagre que a polícia não tivesse aparecido, surgiram três policiais, que nos levaram à delegacia para que disséssemos o porquê de, em sã consciência, atrapalharmos o evento mais nobre da cidade.
         A situação foi esclarecida às duas e meia da madrugada. Paulo e Erick foram embora resmungando alguma coisa que não entendi, mas não importava.
         - Guilherme, eu tenho que te pedir desculpas. Tudo isso...
         - Caramba... – ele disse enquanto fitava algo às minhas costas.
         Quando me virei, também fiquei surpresa com o que via: chegava à delegacia uma Brasília azul escura: o carro do padrinho do Guilherme que havia sido furtado na estrada.
         - Achamos na beira de uma estrada, há menos de um quilômetro de onde vocês informaram que foi roubado. – informou o policial depois dos formalismos – é um modelo antigo. O visor do combustível está avariado. Você tem que verificar isso. Provavelmente os ladrões abandonaram porque estava sem gasolina.
      Rimos tanto que tivemos medo de ser presos por desacato, mas bastou que o padrinho do Guilherme fosse buscar o carro para tudo ficar resolvido.




Às seis da manhã eu já estava no aeroporto e consegui ir ao encontro dos meus pais, que me encheram de mimos, como era esperado. Claro que ocultei a parte de ter me perdido em um bairro suspeito, entrado em um carro com um estranho, ter me metido em uma briga e parado na delegacia. Mas mencionei a parte de ter terminado com o Paulo, que minha mãe ouviu com uma felicidade tão grande que eu quase a culpei por não ter me dado a ideia antes.


Mais tarde naquele dia, notei que havia uma mensagem em uma rede social:

Oi. Tudo bem? Desculpa, tive que procurar a heroína do Natal. A perdida do Nat... Não, a maluca que me meteu em um táxi e me obrigou a comemorar o Natal. Isso! ;)

Respondi o Guilherme com um sorriso nos lábios. Eu não sabia muita coisa sobre magia natalina, mas sabia que alguns milagres haviam acontecido na última noite e eu só queria continuar próxima da única testemunha ocular de todos eles.



Até o próximo texto!


Texto de Kétlen Salvino Dávila, imagens do Pinterest

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A magia de Harry Potter



Como vimos Hogwarts ser objeto do Ministério da Magia

 

Olá Universos,
 
Neste texto, resolvi compilar um punhado de informações extraídas de Harry Potter e a Ordem da Fênix, de Joanne Kathleen Rowling. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 

Lúcio Malfoy, Lorde Voldemort, Belatriz Lestrange, Hermione Granger, Harry Potter e Rony Weasley


 Manchete do Profeta Diário: "O garoto que mente?"
Em Harry Potter e a Ordem da Fênix, Cornélio Fudge, Ministro da Magia acredita que tem seu cargo ameaçado por Alvo Dumbledore, diretor da escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Para manter a aparência de que o Ministério mantém tudo sob controle, evitando desaprovações concretas, Harry Potter é difamado pelo jornal mais lido da comunidade bruxa, levando às pessoas a imagem de um garoto sedento por atenção e de caráter duvidoso. De forma que mesmo depois de ver o maior bruxo das trevas, Lorde Voldemort, vivo e matando Cedrico Diggory, foi dado como mentiroso por conta das edições do Profeta Diário.


 Em uma tentativa de manter a escola sob seu controle, Fudge nomeia Dolores Umbridge para o cargo professora de Defesa contra Artes das Trevas, que posteriormente veio a ser a Alta Inquisidora da escola e a emitir uma série de decretos, entre eles o decreto nº 24, que proibia a reunião regular de três ou mais estudantes sem seu expresso consentimento. Além disso, Umbridge era encarregada de avaliar as aulas dos outros professores, assegurando-se de que as aulas eram dadas de acordo com as diretrizes do Ministério e cuidando para que os professores não transmitissem aos alunos nada do que não fosse estritamente relativo à matéria. 

Dolores Umbridge: Professora de Defesa Contra Artes das Trevas, Alta Inquisidora e diretora temporária da escola de magia e bruxaria de Hogwarts

Cornélio Fudge: Ministro da Magia

Nessa situação, a casa da Sonserina foi deliberadamente favorecida e o time de quadribol da Grifinória prejudicado quando Harry Potter, Fred e Jorge Weasley (Grifinória) foram impedidos de jogar porque reagiram às provocações maldosas de Draco Malfoy (Sonserina) após uma partida vencida pela Grifinória.
Necessitando de decretos e atos repressivos para firmar sua autoridade, Umbridge ganha antipatia de professores e da maioria dos alunos, passando a servir-se do apoio de Fudge (Ministro da Magia), Filch (o zelador que não gostava dos alunos), de alguns pais de alunos, entre eles Lucio Malfoy, que já fora Comensal da Morte (seguidor do Lorde das Trevas) e de uns poucos estudantes, especialmente Draco, filho de Malfoy. 
Na urgência por fazer alguma coisa, um grupo de alunos liderados por Harry prossegue com o projeto de um grupo para aprender defesa contra a arte das trevas, já que a professora Umbridge se recusa a fazer uso da varinha durante suas aulas, surgindo assim a Armada de Dumbledore (AD), um grupo ilegal de defesa, contrariando o decreto nº 24. Tudo isso enquanto se preparavam para os NOMs (Níveis Ordinários de Magia), uma prova que inclui avaliações como História da Magia, Aritmancia, Poções, Tratos de Criaturas Mágicas, Transfiguração, Defesa Contra Artes das Trevas, Herbologia e Astronomia, cujo resultado está intimamente ligado às chances de sucesso profissional dos estudantes. 

A Armada de Dumbledore (AD): grupo ilegal de defesa contra arte das trevas

Porém, Marieta Edgecombe, que participara de reuniões da AD resolve comunicar a existência do grupo a Dolores Umbridge, que imediatamente se ocupa de levar o caso a Dumbledore, que vendo-se diante dos agravantes da situação, forja uma elegante escapada a fim de proteger Harry de uma expulsão e providenciar medidas contra a tirania de Umbridge e Fudge.
Com a fuga do diretor sob a ameaça de ser mandado para Azkaban, a prisão dos bruxos, Dolores Umbridge assume a diretoria da escola de magia e bruxaria de Hogwarts, fazendo com que o Ministério da Magia interfira diretamente na escola. Com isso, Cornélio Fudge sente-se mais seguro em seu cargo, sem a aparente conspiração de Dumbledore, mas ainda assim permanece em seu encalço. 

Os gêmeos Fred e Jorge Weasley
Nesse contexto, os gêmeos Fred e Jorge Weasley começam o que se pode chamar de “ocupação”, encantando rojões, fazendo pântanos surgirem nos corredores e gerando uma série de problemas sob a nova direção. Para eles, não importava mais se seriam expulsos ou não, porque uma batalha maior estava em jogo e mesmo que nem de longe fossem alunos exemplares, no contexto comum da palavra, foram os primeiros dispostos a fazer algo além de cochichar sobre os métodos de Umbridge.
Os atos dos Weasley inspiraram outros estudantes, que mesmo depois de os gêmeos abandonarem a escola, continuaram a dificultar o trabalho de Umbridge, como forma de manifesto, mesmo diante da constante repressão da Brigada Inquisitorial, um grupo seleto de alunos que se dedicavam a denunciar qualquer ato que prejudicasse a nova diretora. 


Reproduzo aqui um trecho do livro que mostra Dolores Umbridge abafando os problemas do ministério e alegando estar tudo bem enquanto, todos sabemos, Voldemort arquitetava algo maligno.

– Sim, Srta. Granger? Quer me perguntar mais alguma coisa?
– Quero. Certamente a questão central na Defesa Contra as Artes das Trevas é a prática de feitiços defensivos.
– A senhorita é uma especialista educacional do Ministério da Magia, Srta. Granger?
– Não, mas...
– Bem, então, receio que não esteja qualificada para decidir qual é a “questão central” em nenhuma disciplina. Bruxos mais velhos e mais inteligentes que a senhorita prepararam o nosso novo programa de estudos. A senhorita irá aprender a respeito dos feitiços defensivos de um modo seguro e livre de riscos...
(...)
– Então não devemos nos preparar para o que estará nos aguardando lá fora?
– Não há nada aguardando lá fora, Sr. Potter.
– Ah, é? – A raiva de Harry, que parecia estar borbulhando sob a superfície o dia todo, agora começou a atingir o ponto de ebulição.
– Quem é que o senhor imagina que queira atacar crianças de sua idade? – perguntou a professora, num tom horrivelmente meloso.
– Humm, vejamos... – disse Harry numa voz fingidamente pensativa. – Talvez... Lorde Voldemort?
(...)
– Dez pontos perdidos para a Grifinória, Sr. Potter.
A sala ficou parada e em silêncio. Todos olhavam para Umbridge ou para Harry.
– Agora gostaria de deixar algumas coisas muito claras. Os senhores foram informados de que um certo bruxo das trevas retornou do além...
– Ele não estava morto – protestou Harry zangado –, mas, sim senhora, ele retornou!
– Sr. Potter-o-senhor-já-fez-sua-casa-perder-dez-pontos-não-piore-ascoisas-para-si-mesmo – disse a professora sem parar para respirar e sem olhar para ele. – Como eu ia dizendo, os senhores foram informados de que um certo bruxo das trevas está novamente solto. Isto é mentira.
– NÃO é mentira! – disse Harry. – Eu o vi, lutei com ele.
– Detenção, Sr. Potter! – disse a Profa Umbridge, em tom de triunfo. – Amanhã à tarde. Cinco horas. Na minha sala. Repito, isto é uma mentira. O Ministério da Magia garante que não estamos ameaçados por nenhum bruxo das trevas. Se os senhores continuam preocupados, não se acanhem, venham me ver quando estiverem livres. Se alguém está alarmando os senhores com lorotas sobre bruxos das trevas renascidos, eu gostaria de ser informada. Estou aqui para ajudar. Sou sua amiga. E agora, por favor, continuem sua leitura. Página cinco. “Elementos Básicos para Principiantes”.


Deixo os questionamentos:

Estava tudo bem mesmo?

Dumbledore era culpado porque fugiu de um ato arbitrário?

Ocupar a escola foi um ato de vandalismo mesmo diante da visível subtração de direitos?

Que tipo de pessoa está disposta a tomar providências ditatoriais ao ver seu cargo ameaçado?

Seria o Profeta Diário, o jornal mais lido da comunidade bruxa, uma fonte confiável?

Estaria Harry Potter mentindo?

Cornélio Fudge é o herói?


Rony Weasley, Hermione Granger e Harry Potter


Que prossigam os jogos. Até o próximo texto!


Diálogo extraído de Harry Potter e a Ordem da Fênix, de J. K. Rowling; Imagens do google