terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ARTE E LIBERDADE

FELIPE CATÃO

Um dos significados da palavra ARTE, segundo o dicionário Luft é: “atividade criadora que expressa de forma estética, sensações ou ideias”. A arte, então, seria a expressão da centelha divina existente no ser humano, de maneira livre e desinteressada. Toda criação é livre!
No entanto, temos artes consolidadas que obedecem a padrões estéticos definidos por um grupo de “artistas”. Por exemplo: se você se dedica a pintura, você necessita aprender a história da arte – no caso à pintura – saber os principais nomes da pintura clássica, suas técnicas e etc. Por mais que um pintor tenha o dom da pintura, ele necessita aprender as técnicas, a ciência da pintura; necessita, ainda, a aprovação dos outros pintores (artistas) já consolidados como representantes de tal arte. Somente assim ele se torna um pintor autentico, reconhecido por sua arte. Essa é a arte clássica!
Contudo, arte é subversão do espirito humano. Ela não obedece a padrões nem regras: a arte é livre. Essa arte livre é uma arte marginal, porque vive a margem da arte tradicional, ou do conceito tradicional de arte – vive aquém e além dela. Dentro dessa arte marginal, existe um tipo nascido na febre das cidades, chamada de arte urbana! Uma arte que todos menosprezam por não lhe conhecer e por ser ela marginal. Uma arte marginal é chamada de arte de “marginais”. Marginais entendidos pejorativamente.
A expressão livre do homem, assim, deixa de ser livre por não ser convencional, perdendo seu caráter criacionista. A arte deixa de ser criação para ser reprodução. Deixa de ser popular para ser burguesa! A arte se torna produto... produto com valor. A tal arte urbana, diante dessa “arte”, perde seu valor artístico. Contudo a arte urbana é mais livre, mais pura!!!
A arte urbana é mais arte que a própria “arte”. Mais humanizante também. Boal, por exemplo, dizia, ao falar do teatro do oprimido, que todos somos atores, inclusive os atores. Parafraseando Boal: todos somos artistas, inclusive os artistas. Vou mais longe: a arte é o que define e fundamenta a condição humana! Toda arte consiste na criação, mas nem toda criação é artística.
Deste modo, o homem é livre pela arte e deve manifestar-se de maneira livre por ela. A literatura, a musica, a pintura, e tantas outras modalidades da arte devem expressar o valor criativo e o significado da existência humana. Pichar, andar de skate, escrever zines, são todas expressões artísticas autenticas. Não podem ser vistas com preconceito. Pois o preconceito contra a arte urbana, toda forma de querer desqualificá-la, é um preconceito e desqualificação da arte em si.
O tratamento e o valor que uma nação dá à sua arte, reflete o tratamento e o valor que esta nação dá ao seu povo. Uma nação que valoriza a arte burguesa e elitista, desprezando a arte popular, é uma nação que valoriza uma minoria, uma elite, desprezando a maioria, o povo, que é marginal a essa maioria. O Brasil segue essa dinâmica de desvalorização da arte. Por isso, tanta desigualdade, tanta falta de liberdade, tanta desumanização. A arte humaniza; a ausência da arte desumaniza.
Surge a questão: qual o valor da arte urbana? Qual o valor que damos a ela? Qual o valor que os governantes dão a ela? Ressalto: desvalorizar a arte urbana, significa desvalorizar o povo em si, compactuar com uma politica de favorecimento das elites. 

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